Cap.6
A aula de teatro.
Empurrei as portas duplas e entrei no teatro, que não era muito grande.Eu já tinha estado ali ontem, mas estava tão abalada que não prestei nenhuma atenção, por exemplo, nas cadeiras forradas de veludo vermelho, parecendo tão amigáveis e acolhedoras, nas cortinas, também de veludo vermelho, que ficavam dos dois lados do palco, no ar de nostalgia que senti quando entrei no lugar, como se estivesse num teatro bem antigo.
Só percebi que estava parada ali há tempo demais quando alguém gritou do palco.
- Ei, garota! Você não vai descer?
Olhei na direção da voz e vi diversas pessoas ali, todas olhando para mim. O garoto que tinha gritado parecia ter apenas alguns anos a menos que eu, e tinha um cabelo castanho comprido que caía por cima dos olhos dele.
Lentamente, desci as escadas que levavam na direção do palco. Identifiquei aquela que devia ser a professora, alta, magra e ossuda, com os cabelos loiros presos no alto da cabeça por dois lápis.Ela até se parecia um pouco comigo. Só o cabelo. E talvez o nariz.
- Eu sou a Laurie - me apresentei - Cheguei aqui ontem.
Alguns alunos acenaram lentamente com a cabeça, como um gesto de reconhecimento.
- Então, Laura- falou a professora - não se preocupe que não vá conseguir acompanhar as aulas, porque chegam novos voluntários todos os dias e eu sempre lido com essas situações. Apenas relaxe e acompanhe os outros.A propósito, eu sou Savannah.
- Na verdade, meu nome é Laurie. Laurie Sorteabeça.
Naquele instante todas as cabeças se viraram para mim. Os alunos começaram a cochichar entre si.O queixo da professora caiu, e ela começou a se remexer, nervosa.
- Com licença, preciso dar um telefonema. Dáli, fique no comando da aula. - Savannah saiu apressada para as coxias.
Uma garota baixinha de cabelos pretos e encaracolados montou duplas e disse para cada dupla começar a fazer os alongamentos. Ela aparentemente sentiu necessidade de se explicar para mim, porque disse:
- Nós estamos montando um musical, portanto todos os artistas precisam estar alongados para poder dançar.
Não reparei muito na minha dupla, porque uma questão não saía da minha cabeça. O que eu tinha dito para provocar aquela reação em todos? Resolvi tentar falar com a garota que era minha dupla.
- Ei, o que eu fiz de errado?- sussurei, para que a garota conhecida como Dáli não pudesse ouvir.
- O que você fez de errado? -ela perguntou de volta.
- Não sei!- eu estava começando a ficar desesperada.
- Ei, relaxa. - ela falou, rindo - Eu só estava brincando com você. Prazer, meu nome é Beatrice. Tenho 14 anos.
Só aí parei para dar uma olhada em Beatrice. Ela tinha cabelos longos e escuros, e os olhos mais gentis que eu já tinha visto. Decidi que aquela garota ia ser minha amiga de qualquer jeito.
- E então, Beatrice, por que todos estavam agindo como se eu fosse algum tipo de bicho no zoológico?
Mas nesse momento a professora chegou, batendo palmas.
- Ok, vamos voltar a ensaiar para a peça agora!
Toda a aula transcorreu normalmente, e Savannah agiu como se nada houvesse acontecido. Mas eu ainda estava determinada a descobrir o que havia de errado comigo,e não ia desistir tão fácil. Peguei minha bolsa e meus livros e dei adeus para Beatrice, que estava indo para sua aula de Baticeering(o que era aquilo, afinal das contas?)
No caminho para a minha aula de Mensagens Codificadas, fiquei pensando que talvez todos os meus medos estivessem se tornando realidade, e o destino fosse um trem correndo na minha direção a toda a velocidade. O que mais me assustava era que eu não podia impedir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário